Os brasileiros têm hoje uma expectativa de vida muito maior que a da geração de seus pais e avós, vivem em geral com mais qualidade e mais saúde – e têm menos filhos. Combinadas, essas mudanças aos poucos começam a trazer uma outra transformação: a dos arranjos domésticos que esses cidadãos fazem ao encerrar sua fase de atividade profissional. É provável que, como os países europeus ou nos Estados Unidos, os idosos não mais queiram ou não possam morar com os filhos e ser cuidados por eles, e desejem preservar tanto quanto possível a independência e a privacidade que usufruíram durante toda a vida.
Um sintoma dessa mudança é que nesta última década o Brasil começou a presenciar o surgimento de condomínios exclusivos para idosos, nos quais eles podem morar com conforto (mas sem os afazeres e as preocupações com empregada e encanador de quem tem de manter a própria casa), junto de pessoas da mesma idade, recebendo a assistência médica necessária e contando com opções de lazer e entretenimento.
Apesar de essas comodidades estarem ainda restritas a uma parcela de classe alta, os geriatras e outros especialistas da área avaliam que esse é um nicho de mercado que deve crescer e ficar cada vez mais acessível do ponto de vista financeiro.
Como são as instalações?
A maioria das residências segue o padrão de um pequeno flat: o espaço privativo inclui apenas quarto, banheiro e, às vezes, uma sala de estar. A ênfase recai sobre os serviços e as áreas comuns. Os bons condomínios oferecem uma grande gama de atividades aos residentes, desde fisioterapia e hidroginástica até salão de jogos e aulas de memória, artesanato e música. Nos mais luxuosos, costuma haver ainda academia, salão de beleza, sala de cinema e biblioteca. A ideia é que o residente crie a rotina que mais lhe agrade: se é caseiro no temperamento, encontrará tudo aquilo que quer ou de que necessita ao seu redor; se é “saideiro” e está com boa saúde, pode ir e vir quanto quiser, mas terá sempre o amparo de uma infraestrutura completa. É possível inclusive procurar uma situação semelhante à qual se estava habituado: embora os edifícios sejam mais comuns, há também residências com jardim para o pessoal que sempre gostou de morar em casa e acha que não vai se adaptar a um apartamento.
Quando o residencial é uma opção?
Com a nova legislação sobre os direitos dos empregados domésticos e o consequente aumento de encargos trabalhistas, muitas famílias que recorriam a cuidadores para acompanhar seus parentes idosos começam a cogitar sua transferência para um residencial. A decisão, porém, não é simples. Se para um idoso europeu ou americano seria angustiante depender dos filhos, ou ter de delegar a eles o planejamento de sua vida, no Brasil, ao contrário, a ideia de que os filhos não se responsabilizaram por abrigar os pais quando estes não mais puderem morar sozinhos é ainda cercada de preconceito e encarada como abandono ou frieza. Por isso, antes de mais nada é preciso que todos os membros da família estejam de acordo, explica o geriatra Wilson Jacob Filho, diretor do serviço de geriatria do Hospital de Clínicas. A começar, é claro, pelo próprio protagonista do enredo.
Para quem o condomínio é ideal?
Se a família sente que as limitações físicas ou cognitivas do idoso estão avançando além dos cuidados que ela pode oferecer, o residencial com amparo especializado pode ser uma opção sensata, claro. Mas é justamente ao idoso saudável que esse novo modelo de condomínio pretende trazer mais satisfação: àquela pessoa que não quer abdicar de sua independência para ir viver com os filhos (ou está experimentando essa alternativa sem muito sucesso). “Mesmo quando mora com a família, o idoso pode se sentir isolado, desprestigiado ou posto de lado: é comum que os parentes estejam ocupados com as próprias atividades e pouco fiquem em casa”, diz Clineu Almada Filho, geriatra da Unifesp. O idoso pode sentir que foi acomodado num canto improvisado da casa, que sua participação nos afazeres cotidianos é mal recebida, que sua vida social está limitada por não poder receber amigos como desejaria, ou que está sendo colocado numa situação de dependência incômoda – se tem, por exemplo, de pedir “carona” e contar com a boa vontade alheia sempre que quer sair. Essas são as situações do dia a dia que a vida em condomínio pode solucionar.
O que se deve observar?
Os especialistas recomendam ao idoso ou à sua família visitar várias vezes, em horários diferentes, os condomínios que têm em vista, inspecionar todas as instalações em detalhe e fazer algumas perguntas cruciais:
– A higiene e a limpeza das áreas privativas e comuns estão nos padrões ideais?
– A cozinha é bem instalada?
– Os residentes estão bem-vestidos e bem penteados? Estão entretidos ou parecem entediados?
– O local está todo adaptado para que os idosos se locomovam sem risco?
– Os ambientes são bonitos e agradáveis? Você se sentiria bem se tivesse de passar períodos prolongados neles?
– A equipe é eficiente, bem apresentada e respeitosa?
– A roupa de cama está nova e recém-lavada?
– As refeições são frescas, fartas e apetitosas? As restrições alimentares dos residentes são escrupulosamente observadas?
– O condomínio organiza passeios e saídas para os residentes aptos a participar deles?
– Qual é a política do residencial sobre os horários de visita e o eventual pernoite dos acompanhantes?
– A assistência do pessoal de enfermagem é constante ou periódica?
– Se o residente vier a manifestar problemas de saúde depois da mudança, o condomínio poderá mantê-lo? Haverá alteração nas condições contratuais?
– O contrato detalha todas as obrigações do condomínio e as da família?
Quanto custa?
As mensalidades dos condomínios para idosos variam muito, já que o padrão de salários, de construção e do mercado imobiliário de cada localidade tem enorme impacto sobre o custo. As necessidades particulares de cada hóspede também podem influir no preço: a maioria dos residenciais realiza um check-up e faz uma avaliação dos requisitos de seu novo morador. O condomínio pode, por exemplo, solicitar que ele disponha de um acompanhante 24 horas ou de cuidados médicos específicos. Em resumo, sai caro. Uma maneira de colocar custos em perspectiva, porém, é calcular quanto seria preciso despender para criar uma situação semelhante na própria morada do idoso, somando aluguel, condomínio, manutenção e os honorários dos empregados e/ou cuidadores. E, claro, computar também um dado subjetivo, mas decisivo: a avaliação do próprio idoso sobre o bem-estar que cada situação pode proporcionar a ele.
Fonte: Revista Veja – 05/03/2014 – Imagem: condominioterceiraidade.com