Bento Azevedo

AZ300LPagar mais para garantir a casa própria ou ficar no aluguel e, com a economia, investir em outros projetos? Enquanto comprar um imóvel representa a aquisição de um patrimônio, o aluguel sai até 60% mais barato que as prestações iniciais de um imóvel equivalente, de acordo com simulações feitas pelo GLOBO. Financiar 90% de uma unidade de R$ 727 mil (preço médio de um quarto e sala na Barra da Tijuca, segundo pesquisa do caderno Morar Bem) em 35 anos exige entrada de R$ 116 mil, com parcelas iniciais saindo a R$ 5.977, segundo o sistema da Caixa. Apesar da dificuldade em encontrar um imóvel em conta para alugar no Rio, como mostrou reportagem do GLOBO publicada neste domingo, economistas especializados em finanças pessoais orientam que vale a pena ficar no aluguel enquanto não há dinheiro para uma boa entrada, evitando o excesso de juros do parcelamento.
Segundo o consultor financeiro Mauro Calil, apesar de ser possível financiar mais de 80% do valor do imóvel, o ideal é que o montante a ser parcelado não passe de 60%. Na simulação para a unidade de R$ 727 mil da Barra, por exemplo, ao aumentar a entrada para R$ 290 mil, a primeira prestação cai para R$ 4.290.94, uma redução de 30%. O valor total (entrada mais prestações) também cai de R$ 1.758.129,35 para R$ 1.472.940,16, menos 16,2%. No caso de um parcelamento de um imóvel de R$ 361.732 (preço médio de quarto e sala na Tijuca), a diferença entre os financiamentos com entradas de 10% e 40% chega a 19,2%. Em todas as simulações a taxa de juros é de 8,85% mais taxa referencial (TR).

– Nesse caso, se a pessoa tem condição de pagar R$ 5 mil de financiamento, aluga por R$ 2,8 mil e vai poupando (para uma entrada maior) – orienta Calil, que não é a favor do aluguel como opção de longo prazo.
– Toda família deve ter uma casa própria. Essa é uma das grandes conquistas que o ser humano vai ter ao longo da sua vida – complementa.

O conselho é semelhante ao do economista Roberto Zentgraf, professor do Ibmec e sócio RZ, consultoria especializada em investimentos pessoais. Ele acredita que entrar em um financiamento de 35 anos, com uma entrada de mais de R$ 100 mil e parcelas iniciais de quase R$ 6 mil por mês depende do momento de vida de cada pessoa. Mas, ao contrário de Calil, o professor não defende a casa própria como necessidade absoluta.

– Se eu tivesse 25 anos e no meu primeiro casamento não ia arcar com uma prestação de R$ 6 mil por mês, juntar minha renda e da minha mulher, ficar sem pode sair de casa, sem ter lazer, fazer a vida virar um inferno, tudo para realizar o sonho da casa própria – explica o economista, que conta que sempre morou de aluguel.

Quando as condições resultam num orçamento apertado, o consultor acha que é melhor só assumir um financiamento se a pessoa tiver uma entrada maior para que o valor do empréstimo seja mais baixo e não comprometa tanto a renda da família.

Investir em imóvel mais barato é opção

Foi essa a estratégia adotada pelo analista de sistemas Diego Gonçalves, de 31 anos. Assim que casou, em 2011, alugou um quarto e sala antigo em Copacabana. Pagava R$ 1,3 mil por mês, abaixo da média para a região. Segundo ele, se fosse comprar um apartamento no mesmo lugar, pagaria, só de juros, mais do que o aluguel do quarto e sala, já que, somando as economias do casal, só possuíam R$ 50 mil no FGTS para dar de entrada e um imóvel equivalente não saía, na época, por menos de R$ 400 mil, segundo suas pesquisas.

Diego não vê problema em morar de aluguel por um tempo prolongado. Quando o contrato de Copacabana venceu, alugou outro apartamento, dessa vez no Flamengo e um pouco mais caro: R$ 2,6 mil por mês, o que consome cerca de 30% do orçamento doméstico. No ano que vem, no entanto, planeja comprar uma casa maior, já que sua esposa está grávida.

– Minha esposa acabou de engravidar. Deve ter neném final de julho ou início de agosto. Quando acabar o contrato, em novembro estamos pensando em comprar – contou o analista, que diz que, dessa vez, calcula que terá R$ 80 mil para dar de entrada em um imóvel mais simples, provavelmente na Zona Norte.

Para quem ainda não está pronto para fazer o investimento planejado por Diego, os números indicam condições favoráveis para alugar. Com a forte alta dos preços de imóveis no Rio, a inflação da locação acabou não acompanhando o mesmo ritmo. Só no ano passado, unidades à venda ficaram 15,2% mais caras, segundo o Índice FipeZap, enquanto o aluguel subiu 8,3%, acima do IPCA de 2013 (5,91%), porém com menos fôlego que os preços de compra e venda. Segundo o economista Gilberto Braga, também do Ibmec, um aluguel deve ser de até 1% do valor do imóvel para valer a pena, proporção que, nas simulações do GLOBO, ficou entre 0,31% e 0,41%.

Mas para o especialista, que afirma que a casa própria deve ser prioridade da família, todas as opções devem ser pesadas, até mesmo diminuir as expectativas, investindo em um imóvel que cabe no bolso, ainda que não seja o sonho de consumo.

– Sou defensor da teoria de que se você não consegue comprar o imóvel dos sonhos agora, compra um mais barato. Depois, usa esse imóvel como moeda de pagamento para o ‘dos sonhos’. O histórico tem sido de valorização – destaca o professor.

Fonte: O Globo
Data: 27/01/2014