Com uma população tão diversa quanto numerosa, estima-se que a Cidade Baixa tenha hoje algo próximo a 20 mil residentes, além dos frequentadores eventuais que buscam no bairro as atrações boêmias e culturais que lhe caracterizam. Esta diversidade acabou por moldar o perfil das construções do bairro, que hoje caracterizam-se pelos aspectos pet-friendly, meios de transporte alternativos e, ao mesmo tempo, acessibilidade e espaços de convivência da vizinhança.
Atualmente a Cidade Baixa é limitada pelo encontro das Avenidas Praia de Belas e Aureliano de Figueiredo Pinto; desse ponto pela Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto até a Praça Garibaldi, dela pela Avenida Venâncio Aires até a Avenida João Pessoa, até a Avenida Loureiro da Silva e dali até a Avenida Borges de Medeiros, de onde se encontra com o ponto inicial. Em meados do século XIX, no entanto, “Cidade Baixa” foi a designação utilizada para toda região situada ao sul da colina da Rua Duque de Caxias. Seu território possuiu vários nomes ao longo da história: Arraial da Baronesa, Emboscadas, Areal da Baronesa e Ilhota.
Ao longo do século XIX, era denominado Arraial da Baronesa, que fazia alusão a uma grande extensão territorial abrangida por uma chácara de propriedade da Baronesa de Gravataí, cuja mansão localizava-se onde hoje é Fundação Pão dos Pobres. Faziam parte da área, também, propriedades semi-rurais, cuja base produtiva era a mão-de-obra escrava. Quando esse fugia de seus senhores, escondia-se na área de mata que fazia parte do Arraial, sendo designado de território das “Emboscadas”.
Em 1879 a Baronesa loteou e vendeu suas terras, que passaram a ser habitadas por negros libertos e famílias italianas. Desta forma, o território foi denominado, ironicamente, de Areal da Baronesa, em virtude da areia avermelhada existente no local.
Assim, até metade do século XX, a Cidade Baixa continuava sendo reduto dos italianos, que realizavam serviços especializados, e dos negros: estes residiam na área correspondente ao Areal da Baronesa e à Ilhota, locais bastante insalubres, pois sistematicamente ocorriam inundações. Essas áreas fazem parte da história de Porto Alegre enquanto espaços associados à cultura popular expressa através dos batuques, das danças, ritmos e festas organizadas pelos segmentos negros da população. Destes dois territórios, saíram inúmeros músicos e compositores, solistas e jogadores de futebol que ficaram nacionalmente conhecidos, como Lupicínio Rodrigues e o jogador de futebol Tesourinha. O bairro acabaria se notabilizando pela existência de uma “classe média singularmente diferenciada”. Composta por famílias que “ainda botavam cadeiras nas calçadas”, assistiam às matinês do cinema Capitólio e freqüentavam os armazéns em busca de “secos e molhados”. Essa “atmosfera” característica, segundo Carlos Reverbel, definia exemplarmente a vida na Cidade Baixa.
Salienta-se que a denominação de Ilhota deu-se em função de uma intervenção realizada em 1905 no fluxo do Riachinho, que acabou por abrir um canal, determinando a formação de uma pequena ilha. Posteriormente, o Riachinho foi canalizado, e teve seu curso modificado através de um projeto municipal, durante a administração de José Loureiro da Silva em 1941, passando a ser conhecido por Arroio Dilúvio.
Uma instituição secular no bairro é o educandário e orfanato para crianças pobres, mantida pela organização religiosa católica “O Pão dos Pobres de Santo Antônio”, fundada em 1895 pelo cônego baiano José Marcelino de Souza Bittencourt. Hoje uma Fundação, o prédio onde ela se situa foi adquirido em 1900 e inaugurado em 1910.
A partir da metade do século XX, população da região aumenta significativamente, em função do desaparecimento das últimas chácaras; as ruas Avaí e Sarmento Leite passam a receber indústrias, instalam-se cinemas como o Garibaldi e o Avenida, na Av. Venâncio Aires, e a Igreja da Sagrada Família, na José do Patrocínio, torna-se sede paroquial. Além disso, o bairro passou por inúmeras intervenções de cunho urbanístico, na medida em que sua localização tornou-se, com a expansão urbana, uma via de trânsito para inúmeros outros espaços da cidade.
Atualmente, a Cidade Baixa, criada oficialmente pela Lei 2022 de 1959, é habitada por uma população heterogênea e, como pontos que referendam seu passado, estão o Ginásio de nome “Tesourinha”, o complexo habitacional denominado “Lupicinío Rodrigues”, o Solar Lopo Gonçalves que é sede do Museu de Porto Alegre, a Fundação Pão dos Pobres, o Largo Zumbi dos Palmares, a Ponte de Pedra, a Travessa dos Venezianos e inúmeros estabelecimentos de entretenimento, principalmente noturnos, que lembram os tempos boêmios do Areal e da Ilhota. (PMPA)
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