Desde o princípio da pandemia, os mercados de construção civil e imobiliário estão apresentando resultados surpreendentes e, ao mesmo tempo, enfrentando uma série de desafios. Mesmo em um momento de crise, um conjunto de fatores fez com que a venda de imóveis no país tivesse um crescimento de 9,8% em relação a 2019, conforme levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). No total, as vendas de imóveis residenciais novos no País foram de 189.857 unidades no ano passado.
Em paralelo, a construção vem enfrentando um cenário de alta nos custos de insumos e até mesmo de dificuldades para encontrá-los no mercado. A nível nacional, o setor sofreu um recuo no PIB (Produto Interno Bruto) de 2,8% no ano passado, índice considerado satisfatório por entidades representativas, visto que, no início da pandemia, a Cbic chegou a prever encolhimento de até 11% no PIB do setor em 2020.
Sobre o aquecimento no mercado imobiliário, que segue repercutindo em 2021, a coordenadora de projetos da construção do FGV IBRE, Ana Maria Castelo, explica a relação desse fenômeno com as variações das taxa básica de juros e as tarifas de financiamento de imóveis. “No ano passado, de um lado, as taxas de juros das aplicações estavam muito reduzidas por conta da queda da Selic. Do outro, os juros dos financiamentos imobiliários caíram também para um piso histórico, o que permitiu que mais famílias se tornassem elegíveis, além de atrair investidores”. Em agosto do ano passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) baixou a taxa Selic para 2% ao ano, o que representou o menor patamar desde o início da série histórica, permanecendo neste patamar até março de 2021, quando voltou a subir. Hoje, está em 6,25%.
Neste cenário favorável, Porto Alegre registrou a comercialização de 4.975 imóveis novos e o lançamento de 2.879 unidades, números também considerados acima das expectativas por entidades do setor em um ano atípico. Os dados fazem parte de pesquisa realizada pelo Sinduscon-RS, em parceria com a Alphaplan e a Órulo.
“Quando as pessoas começaram a ficar em casa, surgiu, naturalmente, uma grande necessidade de melhorarem as suas moradias. Quem tinha apartamento menor tentava comprar outro de dois ou três dormitórios. Com isso, houve uma movimentação do mercado grande”, diz o presidente do Sinduscon-RS, Aquiles Dal Molin Junior.
O presidente do Sinduscon-RS destaca ainda a ação de bancos para facilitar a obtenção de crédito imobiliário. “Isso abrangeu as pessoas de todos os níveis, atingindo imóveis de luxo, médio e de baixa renda também”, detalha.
Os financiamentos para a compra e a construção de imóveis bateram recorde e somaram R$ 123,97 bilhões em 2020, alta de 57,5% na comparação com 2019. No Estado, o aumento no crédito também chama atenção. No primeiro semestre deste ano, o valor financiado para compra e construção de imóveis fechou em R$ 5,312 bilhões, aumento de 107% ante o mesmo período de 2020. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Fonte: Jornal do Comércio