A escalada dos preços dos imóveis e os juros elevados têm ampliado o desafio para a classe média brasileira adquirir a casa própria. Segundo o relatório Raio-X FipeZAP, a intenção de compra caiu para 35% no segundo trimestre de 2024.

Coriolano Lacerda, gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX, responsável pelo estudo, explica que os preços aumentaram bem acima da inflação, pesando no bolso das famílias. “Um imóvel que custava quase 200 salários médios em 1995, hoje pode representar até 400 salários.”

Na outra ponta, há aumento no crédito imobiliário restrito a famílias de baixa renda, que recebem subsídios de programas como o Minha Casa Minha Vida e outros programas estaduais. A classe média, porém, enfrenta juros altos e crédito limitado. “Esse movimento favorece a habitação econômica, enquanto o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) apresenta barreiras”, explica Lacerda.

A Caixa Econômica Federal, principal financiador, aumentou a entrada mínima de 20% para 30% do valor do imóvel. Além disso, a Selic, em 11,25% ao ano, incentiva a retirada da poupança, pressionando os bancos a endurecerem as condições de financiamento.

A situação se agrava com o Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R) apontando alta de 12,42% em 12 meses, muito acima do IPCA, que foi de 4,42%. Esse aumento reflete o impacto dos programas sociais, segundo Ana Maria Castelo, da FGV. A demanda aquecida impulsiona os preços, atingindo também a média e alta renda.

O professor Écio Costa, da UFPE, observa que a demanda crescente por imóveis é herança das condições favoráveis durante a pandemia. Entretanto, ele alerta para a necessidade de uma contenção econômica para equilibrar o mercado. “A redução dos gastos do governo poderia conter o aumento dos preços”, sugere.

Já Luiz França, da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), recomenda a compra, apostando na valorização patrimonial. “A portabilidade de crédito no futuro pode viabilizar taxas menores”, conclui.

Fonte: E-investidor/Estadão