Dividir um imóvel com um ou mais amigos – por vezes, até com desconhecidos – acaba se tornando a única opção para o orçamento de muita gente. E a prática é cada vez mais recorrente em tempos de aluguel nas alturas, onde os preços que mais sobem são justamente os dos imóveis de um quarto. A imobiliária Protel, por exemplo, já registra intensa migração de inquilinos para unidades de dois-quartos, o que elevou a procura por esses imóveis em 20%.
“Os alugueis dos apartamentos menores aumentaram muito por serem atrativos para diferentes públicos, do estudante ao casal que se separa. Mas tamanha demanda elevou demais os preços. Dependendo do bairro, a diferença do aluguel de um imóvel de um quarto para um de dois é quase nenhuma”, diz Leandro Claro, gerente de locações da Protel.
Dividir um imóvel, no entanto, requer jogo de cintura. Caso contrário, pode resultar em experiências pra lá de desagradáveis. Há casos que enveredam pela linha tragicômica, como os que inspiraram o livro “Saindo de casa – Independência ou morte”, que a arquiteta Bárbara Ribeiro escreveu em 2010:
“São casos verídicos: como a do amigo que escreveu suas iniciais na casca dos ovos para indicar que só ele poderia comê-los; e a da room-mate com TOC (transtorno obsessivo compulsivo) que, inusitadamente, surtava quando o banheiro e a cozinha não eram limpos de acordo com as suas “regras”.
A pernambucana Isabel Bulhões, hoje com 58 anos, conta uma história que, de tão inusitada, virou um daqueles “causos” contados à exaustão:
“Na época, me mudei para o Rio para fazer faculdade e aluguei um apartamento com mais duas colegas de sala. Uma era umbandista, a outra, evangélica. Um dia, ao chegar do trabalho, ouvi uns barulhos estranhos. Ao entrar num dos quartos, me deparei com a evangélica batendo com a cabeça da umbandista na cabeceira da cama, dizendo: “Vá de retro, satanás!”. Com muito esforço, consegui salvá-la”, conta.
Até a separação pode ser um problema – A empresária Valéria Lopes e a policial civil Carol Ottoni se conheceram no dia da matrícula da faculdade, 2000. De lá, já saíram juntas para procurar apartamento. O começo, complicado, foi superado e a expectativa de cinco anos fortaleceu a amizade.
“Nós tivemos criações totalmente diferentes. Eu, por exemplo, não conseguia deitar para dormir com a pia repleta de louça. Já a Carol não estava nem aí para isso. Uma peça de lingerieesquecida no banheiro já era motivo de conflito”, conta Valéria.
Até a hora da separação pode ser um problema para quem divide aparetamento. É o que aconteceu com o João, filho do engenheiro Guilherme Santos, que era fiador no aluguel de um imóvel que divida com um amigo.
“O contrato está no nome do meu filho, que saiu do apartamento e deixou um amigo morando no imóvel. Já pedimos a ele para resolver essa situação, mas ele se faz de morto e a amizade já está indo para o espaço. É uma situação chata e nosso receio é que ele pare de pagar aluguel”.
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