Bento Azevedo

O sonho de fugir do aluguel e adquirir a casa própria pode sofrer um movimento inverso. Os juros mais altos, a drástica redução do percentual do valor do imóvel que pode ser financiado – que chega a apenas 50% no caso de usados – e o rigor nos critérios anunciados pela Caixa devem dificultar o acesso da população ao crédito imobiliário. Estimativas do mercado ainda preveem uma queda considerável no ritmo de vendas, que deve fechar o ano 6,4% menor, aumentando a demora para venda e o encalhe. “O aluguel é a alternativa para quem quer mudar, mas não tem como dar uma entrada muito alta na compra”, afirma o vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e do Sindicato de Habitação (CMI/Secovi-MG), Flávio Galizzi.

Ainda é cedo, segundo ele, para falar que essa tendência vai gerar aumento nos preços dos aluguéis. Porém, Galizzi pondera que “a correção dos aluguéis não deve ficar abaixo da inflação, em torno de 8%, e, no médio e longo prazos, um número maior de pessoas vai buscar o aluguel como boa alternativa”.

O engenheiro mecânico Victor Lopes, 30, adiou os planos de financiar um imóvel na capital. Desde 2013, ele negocia um empréstimo de R$ 320 mil junto à Caixa, mas, neste ano, enterrou de vez a possibilidade de consegui-lo. “Os imóveis não baixam de preço, os juros aumentam. Agora, optar pelo aluguel é bem mais vantajoso”, explica. Morando na região Centro-Sul, Lopes paga R$ 1.800 de locação. O valor é bem menor que as parcelas simuladas no banco para financiar um imóvel, que só poderia comprar em bairros mais distantes do centro. “Como não tenho mais interesse em comprar agora, estou juntando dinheiro para dar uma entrada maior nos próximos anos”, explica.

Para o vice-presidente da CMI, o aluguel tornou-se mesmo uma opção interessante, já que o momento é de insegurança financeira da população. “Com o crédito mais difícil e a economia em crise, o temor da população em contrair um empréstimo resultará na queda na velocidade de vendas até o final de 2015”, prevê Galizzi. A projeção é que o índice chegue a 6,40% (a cada dez imóveis em estoque, em média, seis são vendidos).

Comparação

Índice de velocidade. Para se ter uma ideia, no ano passado a velocidade de vendas ficou em 7,69% – o que representa maior ritmo. Em 2013, com o mercado bem mais aquecido, foi de 9,25%.

Concessão de crédito caiu 17,8% entre janeiro e fevereiro

O número de concessões de financiamentos de imóveis, feitos pelos bancos que oferecem o serviço, caiu 17,8% entre janeiro e fevereiro deste ano. Dados do Banco Central mostram que, no primeiro mês, foram liberados R$ 15,3 bilhões em crédito para a casa própria. No mês seguinte, o valor foi menor: R$ 12,5 bilhões. Além de um mês mais curto e ainda com o Carnaval, fevereiro teve um recuo que já era esperado pelo mercado. No entanto, em janeiro, a Caixa promoveu o primeiro reajuste dos juros, o que pode ter contribuído ainda mais para essa queda, já que o banco detém 70% do crédito imobiliário.

Fonte: O Tempo
Data: 04/05/2015.