As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul entre setembro de 2023 e maio de 2024 causaram um impacto significativo no mercado imobiliário local, modificando a dinâmica antes da trágédia. Segundo levantamento do Secovi-RS (Sindicato da Habitação), imóveis em áreas afetadas sofreram desvalorização, enquanto propriedades em locais seguros tiveram aumento de preço.
Em Porto Alegre, cerca de 1.413 imóveis (13% do total disponível) apresentaram redução de preços em setembro, com queda média de 9% em relação a abril. O bairro Menino Deus, um dos mais antigos e nobres da capital gaúcha, foi o mais afetado pela desvalorização.
Pontos comerciais, já impactados pela pandemia de Covid-19, sofreram quedas ainda maiores, entre 11% e 12% nos preços de venda. “As pessoas estão tentando voltar à normalidade, independente de enchente, confiando que vão alugar de novo, que vão conseguir vender. O problema é que os estabelecimentos comerciais estão demorando muito a voltar ao que era, e o que é pior, muitos negócios fechados e que estão para alugar de novo”, avalia o presidente do Secovi-RS, Moacyr Schukster.
A desvalorização dos imóveis impõe desafios às famílias, incluindo perda patrimonial e possível dificuldade de acesso a crédito. Em alguns casos, unidades financiadas podem valer menos do que a dívida total contratada junto ao banco. Além disso, a queda nos valores reduz as garantias disponíveis para novos empréstimos, dificultando o acesso ao crédito para recuperação ou mudança.
Já as áreas consideradas seguras contra enchentes registraram aumento nos preços, diante da alta demanda. Esse fenômeno cria um dilema para as famílias afetadas: enfrentam a desvalorização de suas propriedades atuais e, ao mesmo tempo, deparam-se com preços mais altos ao buscar imóveis em áreas seguras. “O prognóstico não é muito alvissareiro. Mas a gente tem que confiar na falta de memória das pessoas”, lamenta Schukster.
Os preços de venda residencial na capital gaúcha acumularam alta de 4,32% no ano até setembro e de 6,33% em 12 meses, segundo o FipeZap. O aumento foi impulsionado principalmente por bairros afastados do Guaíba, e que não foram afetados pelas cheias, como Rio Branco, Bela Vista, Mont’Serrat e Petrópolis.
No mercado de alugueis, o aumento foi ainda mais expressivo, atingindo 25,5% em 12 meses, superando a média de 13,75% observada nas 36 cidades monitoradas no Brasil. Alison Oliveira, coordenador do índice FipeZAP, atribui parte desse aquecimento à injeção de recursos para a reconstrução das cidades afetadas.
Embora os dados sejam mais limitados para o interior do estado, relatos de moradores e empresários sugerem dinâmica semelhante no setor imobiliário. Em Roca Sales, a funcionária pública Valquíria Regina Bazanella relata a desvalorização drástica de sua propriedade. “Aqui tinha proposta de mais de R$ 1 milhão. Agora não vale nada”. Ela também observa que “um terreno que era R$ 100 mil agora está R$ 200 mil. Dobrou [de preço] depois da enchente, todo mundo está procurando”.
Fonte: Folha de S.Paulo
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