O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) tem sido um dos principais motores do setor habitacional no Brasil, especialmente para as famílias de baixa renda. No entanto, um novo movimento está chamando a atenção do mercado: a disparada na compra de imóveis usados dentro do programa — uma tendência que vem gerando preocupação entre construtoras, incorporadoras e representantes da indústria da construção civil.
De acordo com dados divulgados pelo governo e analisados na reportagem do G1, a venda de imóveis usados financiados pelo MCMV cresceu mais de 50% no primeiro semestre de 2025, enquanto a aquisição de imóveis novos avançou apenas 7%. Essa mudança no perfil de compra acende alertas importantes sobre os rumos do programa e o impacto no setor produtivo.
Por que os imóveis usados estão ganhando espaço no MCMV?
Desde a reformulação do Minha Casa, Minha Vida, em 2023, o programa passou a permitir a compra de imóveis usados nas faixas 1 e 2 de renda — algo que anteriormente era restrito a faixas superiores.
Essa ampliação do escopo, aliada ao aumento no valor máximo do subsídio e à pressão nos preços dos imóveis novos, fez com que muitas famílias optassem por unidades já existentes, que costumam ser mais baratas e estar melhor localizadas nos centros urbanos.
Impacto para o setor da construção
A preocupação do setor da construção é que a preferência pelos usados desestimule o lançamento de novos empreendimentos populares. Isso pode gerar uma desaceleração na geração de empregos formais, especialmente em regiões onde a construção civil representa parcela significativa da economia.
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), cada 1.000 unidades novas construídas gera cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos. Com a migração da demanda para o mercado secundário, há o risco de uma retração no volume de novas obras e consequente queda na atividade do setor.
O que dizem os especialistas?
Representantes do setor argumentam que o programa deveria incentivar prioritariamente a produção de novas moradias, especialmente nas faixas mais baixas de renda. Isso garantiria não só habitação, mas também a dinamização da economia, com geração de renda, ocupação da mão de obra e desenvolvimento urbano planejado.
Por outro lado, urbanistas e defensores da flexibilização da política habitacional apontam que a compra de usados tem o mérito de ocupar o estoque ocioso de moradias nas cidades, além de oferecer localização mais vantajosa e infraestrutura urbana já consolidada.
Quais as alternativas?
Entre as propostas debatidas no setor, algumas sugestões ganham força:
Restringir parcialmente o uso de subsídio para imóveis usados, mantendo o foco em novas unidades na faixa 1 do MCMV.
Criar metas de aquisição proporcional entre imóveis novos e usados, para manter o equilíbrio entre os dois mercados.
Rever os tetos de preços para os novos empreendimentos, incentivando a oferta de projetos mais competitivos e adequados à demanda das famílias.
Ampliar incentivos para a construção em áreas urbanas bem localizadas, equilibrando oferta e demanda com qualidade.
O que isso representa para o comprador?
Para quem está buscando o primeiro imóvel pelo Minha Casa, Minha Vida, o cenário atual representa mais opções de escolha: é possível comprar tanto imóveis novos quanto usados, com subsídios significativos, juros reduzidos e prazos longos de financiamento.
Contudo, é essencial contar com a ajuda de um profissional do mercado imobiliário para avaliar localização, estado de conservação, documentação e potencial de valorização do imóvel, seja ele novo ou usado.
Conclusão: equilíbrio entre moradia e desenvolvimento
A mudança na dinâmica do Minha Casa, Minha Vida mostra como as políticas públicas habitacionais influenciam diretamente o mercado imobiliário e a economia como um todo. Garantir o acesso à moradia é fundamental, mas também é preciso pensar no desenvolvimento sustentável do setor da construção, que cumpre um papel social e econômico relevante.


